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REVIEW | Suits: 5.10 "Faith" [Summer Finale]

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Destino ou fatalidade?
CONTÉM SPOILERS!

A questão do destino é sempre muito controversa. Há quem acredite que nossa história está escrita, e, por mais que tentemos fugir dela, ela será capaz de nos alcançar. Já outros creem que a trajetória humana é trilhada a todo momento, e que cada dia um leque de oportunidades é aberto em nossa frente, restando à nós mesmos a escolha daquela que entendemos ser a melhor de todas. 

Tá, mas por qual razão escolhemos a direita em vez da esquerda? O que nos levou ao lado certo? Perguntas assim não possuem respostas esclarecedoras o suficiente, apenas surgem para acender a dúvida em nossas cabeças: somos peças de um jogo de destino ou estamos sendo guiados à uma fatalidade resultante de nossas próprias ações? 

Na mitologia grega há a figura de três irmãs fúnebres, conhecidas como as Moiras. Costurar, tecer e cortar o fio na roda da fortuna era o hobby desse trio. Acontece que o fio tecido pelas Moiras era nada menos do que a linha temporal dos seres humanos, bem como dos deuses, da Grécia Antiga. A tríade tinha o destino da sociedade grega tecido em sua própria roda, o que as tornava domadoras da coletividade. Acontece que tal irmandade se perfaz como mera analogia aos nossos próprios pensamentos. 

Dentro do nosso subconsciente temos algumas peças que são essenciais para o deslinde de nossa própria vida. Escolhemos alternativas de acordo com as nossas próprias convicções, e muitas vezes não entendemos a razão das nossas inclinações. Às vezes sabemos que aquilo é o errado, e mesmo assim o fazemos. Desta forma, pensamos que o destino é feito das nossas próprias virtudes, baseado na consciência pessoal, guiado pelo forte senso espiritual de cada um. Entretanto, uma escolha errada pode se tornar certa em um piscar de olhos... Desde que feita dentro do prazo certo...

É invocando o lúdico que Suits encerra a primeira parte de sua quinta temporada, nos colocando de frente com um dos maiores vilões de todos: o próprio conhecimento. Se conhecer é perigoso, pois no momento em que descobrimos os nossos defeitos, desvendamos os mistérios que englobam os nossos maiores erros. No momento em que a série decidiu embarcar em um caminho pessoal, visando o desenvolvimento unificado de seus personagens, percebemos que ela estava se conhecendo. 

Não é pecado nenhum uma storyline utilizar de seus protagonistas para o próprio benefício. O show sempre visou tratar da maneira mais ardilosa possível os ludíbrios da esfera jurídica enquanto meio de resolução de conflitos. Porém, a teta uma hora seca, e é necessário o crescimento dos personagens para que tudo seja bem encaminhado. Usar e abusar da própria filosofia foi o artifício mais eficaz que Aaron Korsh e companhia utilizou para transformar uma fatalidade em um destino incerto. Ora, era fatal que Suits seguiria o barco mamando na mesma fonte que lhe dava rendimentos, mas isso seria conveniente até quando? 

Os dez episódios deste quinto ano transformaram uma série sobre casos jurídicos e empresariais em um seriado que visa a interação de pessoas que trabalham em um setor de Direito. Viram a diferença? A linha que vinha sido tecida pelo showrunner estava muito igual, e para conseguir fazer a costura da bainha de um jeito certo, as Moiras precisaram entram em um consenso interno e transformar seus heróis em seres errantes. 

Desde os primórdios sabemos que não há santo nenhum dentro das paredes de vidro da Pearson, Spceter & Litt. Em "Faith", isso restou incontroverso. A utilização da fé como elemento essencial foi o golpe certeiro para transformar um episódio decisivo em um capítulo memorável. Arrisco em dizer que, ao trilhar por mares jamais navegados, e conseguir domá-los, a série nos apresentou o seu melhor. Pois bem, pudemos analisar o contexto das três Moiras que tecem, cortam e costuram o destino da histórias, e, desta forma, percebemos que tais Moiras são meras vítimas de suas próprias histórias. 

Os erros cometidos no passado podem ser consertados, desde que com muita fé e empenho. Suits, a série em sua própria essência, é o exemplo disso, haja vista ter se reinventado e trazido consigo um contexto revigorado, buscando analisar a fragilidade de seus personagens, bem como os reflexos de suas escolhas pretéritas. Se achávamos que Jessica Pearson era um mármore por conseguir manejar um escritório - e uma zona territorial - liderada por homens importantes, estamos enganados. 

Depois de muito analisar a onipotência e onipresença de Jessica é que foi possível a percepção da humanidade da personagem. Sua rebeldia, e muitas vezes covardia, se dá como um contra-ataque. Jessica esteve acostumada a perder tudo aquilo que nunca batalhou para ter. Sim, ela sempre pensou no trabalho como seu único destino, sem constatar que a ganância gerou fatalidades, especialmente em sua esfera pessoal. Os golpes que a vida deu em Jessica, e aqui eu não cito as derrotas profissionais, foi o que a tornou tão apegada ao trabalho. 

Há quem diga que trabalho é trabalho, e casa é casa, o que seria o certo, obviamente, todavia, Jessica nunca conseguiu fazer essa diferenciação pois acabou apegada ao trabalho, entregando-se de corpo e alma à labuta e caindo nas desgraças e pegadinhas de suas vicissitudes. Contudo, há males que vêm para o bem. Se Jessica transformou seu trabalho em sua própria casa, ela deixou o ambiente agradável o suficiente para que os demais se sentissem assim. 

Venho dizendo que a Pearson, Specter & Litt parece a casa da mãe Joana, com todos os familiares presentes, e realmente, temos um perfil para cada parente na série. Entretanto, o mais legal de tudo é analisar que, mesmo com as diferenças, não tem um agregado mala capaz de desarraigar o afeto íntimo de todos ali. Tal fato fica caracterizado no momento em que Daniel Hardman e Jack Soloff, bem como todas as visitas não requisitadas, tentam enfiar o bedelho ali. Até então, não entendíamos o porquê disso tudo. Aliás, querendo ou não, nada ficou explícito o suficiente, apenas demonstrou que o sucesso fala mais alto, e que a inveja tem uma audição muito boa e perspicaz. 

Nem sempre se trata de uma questão de dívida, e sim de querer ser. Jessica conseguiu a mesma coisa que Daniel, contudo, de maneira filantrópica e excepcional, com um carisma e afeto que seu antecessor jamais denotou. Jessica incluiu todo mundo em seu âmbito familiar, e derrubando-a ou não, Daniel nunca conseguirá isso, pois ele não tem o insight

Louis, por sua vez, foi a cereja do bolo ao seguir na sua intuição (ok, ele também seguiu os ideais de Harvey, mas isso eu relevei) e seguir a família que ele escolheu. Interessante perceber que ele equiparou o escritório à Esther, e isso, obviamente, será muito bem utilizado nos próximos episódios, eu tenho certeza. Porém, aqui, ele ganha pontos por isso, por não cagar na moita e assumir a sua ideologia. 

Contudo, quem merece o reconhecimento é Harvey Specter, por ter entregue o seu melhor na temporada, tornando-se o destaque do quinto ano da série. Por meio da terapia que ele enfrentou junto com a Dra. Paula Agard, foi possível o entender. A sua ganância e necessidade de estar no topo surge através do sentimento de estar por baixo que ele sempre sentiu. Com os flashbacks muito pontuais, analisamos o seu sentimento de culpa, e como isso o afetou. Querer agir por impulso e solucionar os problemas sem precisar de um processo civil (ou criminal) para isso, é um retrato de seus medos e decepções. 

Em razão de Harvey ter omitido todos os segredos de sua mãe, e ter jogado a bomba de repente, fugindo sem olhar para trás, foi o ponto de partida para ele querer assobiar e chupar cana. Acontece que tal situação acarreta vários sentimentos. Nem tudo na vida precisa e deve ser feito com pressa, e é por isso que ele vêm atropelando suas próprias virtudes desde o episódio piloto. Tudo faz sentido, desde suas escolhas profissionais até às seleções amorosas. Harvey não quer sentir culpa por encargos moratórios excessivos. Isso se torna tão real que ele buscou, assim como Jessica, esconder seus sentimentos dentro do escritório. Mal sabia ele que sua própria cara metade estaria ali, na espreita, o conhecendo da maneira mais bela e genuína possível. 

A cena em que Donna percebe que ela é a mulher da vida de Harvey foi uma das mais bonitas e singelas de todos os episódios até aqui apresentados, pois não foi preciso muito, e sim um choque de realidade para que a ficha caísse. Não foi preciso uma fatalidade e um golpe de destino, e sim uma costura interna, lá no pensamento mais remoto de Donna, para que ela ligasse os pontos.

Acontece que nem todos temos a iniciativa necessária para nos encontrarmos dentro de nossas próprias perspectivas. Às vezes é preciso um empurrão para que deixemos a ganância e a busca pelo poder/prazer de lado, e busquemos a paz de espírito. Mike vêm em uma onda de episódios que trabalharam com o seu melhor. Tivemos dez episódios centrados em sua capacidade e poder de relação com os demais, especialmente com Rachel. Mas, tudo veio à calhar no momento em que o destino, ou digamos, as fatalidades da vida, lhe pregaram peças.

A existência de alheios em nossa vida é essencial para nos mostrar quanta coisa já deixamos passar, pelo bem ou pelo mal. Isso foi o que "Faith"fez: colocou a verdade e os remorsos dos personagens em evidência, e nos mostrou como cada um lidou com isso. O modo como Mike Ross chegou à isso não importa, apenas serve para mostrar o quanto ele cresceu, mas não que ele tenha se tornado correto.

Os flashbacks, por si só, demonstram que Mike cresceu com a culpa pela morte dos pais, involuntária, é claro. No entanto, a salvação de Mike foi o seu espírito fraternal. Ele sempre esteve envolto às questões familiares, tanto é que sua avó faleceu vendo o lado mais fraterno de seu neto. Ocorre que tal sentimento foi perigoso, e acomodou Mike. Ele caiu de pára-quedas em uma cama de algodão e foi recepcionado em um lar, o qual estava amortecido por uma dupla de advogados que haviam apanhado da vida e transformaram o escritório em uma casa.

É certo que Mike errou, mas tal erro decorreu de uma acomodação indevida. Foi uma fatalidade ele ter surgido na firma, um golpe do destino, mas tão certeiro que o colocou na firma certa, a firma que o tornaria mais humano, mais sensato, e que demonstraria, uma hora ou outra, que suas escolhas tinham que ser revertidas. Mas como eu disse lá no começo do texto, uma escolha errada pode se tornar certa em um piscar de olhos... Desde que feita dentro do prazo certo... O prazo de Mike escoou, e no momento em que ele decidiu fazer o bem, e olhando bem àqueles que ele tanto preza, as consequências surgiram.

O destino de Mike era fatal. Aqui as coisas se misturam, e não há pessoalidade ou escolha do subconsciente que pudesse evitar isso. Mike brincou com o fogo e agora terá que apagar o incêndio que só está começando. A sua prisão pode parecer precoce, mas é a escolha que a série teve de se reinventar, além de trazer mais e mais conflitos ao roteiro. Sendo destino ou fatalidade, eu assevero: Suits escolheu o caminho certo. 

By-laws: 

1. Não tem como não elogiar o ator que interpretou o mini-Mike. O menino entrou de corpo e alma no papel, nos emocionando com as cenas de flashback
2. Por falar em Mike, se reclamávamos de seu cabelo nas atuais circunstâncias, o que falar do look adolescente do rapaz? Melhor ficarmos com a lembrança do cabelo atual...
3. Como sempre, a soundtrack estava impecável. Aqui destaco "Poison"do Vaults que embalou a cena em que Jessica e Louis conversam, e "When I Go"do Keaton Simons que encerrou o episódio de maneira espetacular. 
4. A série retorna para o décimo primeiro episódio da temporada em janeiro. Até lá! 

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E vocês, o que acharam do episódio? Ansiosos para saber o desenrolar da história? Eu mal posso esperar! 

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