Por onze anos acompanhamos a trama que envolve Meredith Grey e seus companheiros de medicina. Com eles vivemos histórias memoráveis, não podemos negar. O único problema é que haviam nuvens capazes de ofuscar os raios solares oriundos de um único astro: Dra. Grey. A série que leva o seu nome sempre buscou linhas colaterais para complementar as histórias de nossa protagonista. Acontece que, doze anos depois, temos uma Meredith independente, pronta para liderar um
show e levar consigo a sua trupe. O sol está pronto para brilhar como nunca.
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O crescimento de Meredith Grey é notável. De uma simples interna, a moça chegou ao topo de sua carreira. E pensar que vimos isso acontecer tão rapidamente... Meredith é o centro de
Grey's Anatomy, sendo o reflexo de seu público. Ora, quem acompanha a série por todo esse tempo pode ser comparado a ela, afinal, passamos por todas as lides junto dela. Sofremos, rimos, choramos. Somos imortais. Se chegamos até aqui, mesmo após tantas marteladas, é porque somos merecedores.
"Sledgehammer"trouxe o melhor de
Grey's Anatomy. A
season premiere trouxe toda a acidez da sala de produção em seus quarenta e tantos minutos. Aqui, tivemos toda a parede do passado obscuro destruída, pronta para permitir a entrada de um ar fresco, de novos brilhos solares. Por meio de um arco que conseguiu englobar todo o universo do Grey-Sloan Memorial Hospital, o episódio se destaca, demonstrando que a temporada abordará o mesmo assunto de sempre mas em um ritmo mais dinâmico, mais fresco.
Começamos pelo próprio sol, que demonstrou ter se reiventado após toda a nebulosidade que enfrentou na décima primeira temporada. A recolocação da personagem na trama - agora situada em sua antiga casa - retoma os tempos de ouro da série. Ver Meredith usando e abusando daquele que foi o seu lar é gratificante, ainda mais acompanhada de suas irmãs. Sim, coloco Amelia como irmã de Grey pois é isso o que ela é. A rixa entre as duas foi sadia o suficiente por denotar toda a incondicionalidade que surgiu entre as duas, bem como o intermédio de Maggie que foi essencial para o deslinde da história.
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A relação da tríade foi sagaz pois enalteceu todas as características que nos conquistou lá nos primórdios. Picuinhas sobre decisões de casa se tornaram mais importantes que casos médicos e/ou amorosos. Assistir a pessoalidade de cada uma foi revigorante, pois demonstrou que a série conseguiu se reerguer, independente de Derek Shepherd ou não. Claro, nada é igual, mas quem disse que queríamos uma reprodução dos últimos anos?
O interessante é perceber que os raios solares de Meredith Grey conseguiram bronzear a
storyline como um todo. Todos pegaram uma corzinha com tudo isso. A
premiere se tornou dinâmica por trabalhar a essência do elenco inteiro, independentemente. Desde a relação adolescente entre Amelia e Owen, até o conflito entre April e Jackson. Aliás, essa disparidade foi algo importante capaz de demonstrar que o roteiro está disposto a trabalhar com toda a espiritualidade de um relacionamento, coisa que não era muito bem trabalhada nos anos predecessores.
Ainda, a estreia do décimo segundo ano da série demonstra ser a mais nostálgica possível, pois conseguiu trabalhar com todo o tipo de situação. A mais pertinente em
"Sledgehammer"foi o
bullying, um tabu muito perigoso e que aqui coube de forma muito bonita, singela e natural, haja vista envolver duas garotas jovens e de universos totalmente distintos.
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A situação que englobou a tentativa de suicídio por causa do preconceito que rolava dentro da casa de Jess foi essencial para demonstrar o quão perigoso um nariz torcido é. Não podemos controlar aquilo que é intrínseco, e isso nunca, em hipótese alguma, deveria ser motivo de chacota ou hostilidade. Ora, tínhamos duas garotas saudáveis em busca do amor que foram completamente abalroadas pelos golpes de um prejulgamento oriundos de alguém que deveria ser a mais compreensível possível.
O legal de tudo isso é perceber que todos sabiam que a mãe estava errada, e que, no fim das contas, precisou levar uma chacoalhada para entender que estava sendo ridícula. As meninas buscavam a felicidade e estavam impossibilitadas de exercerem o amor por conta de um ato maléfico de alguém que não tinha compaixão. Isso é o
bullying, não entender o outro e julgá-lo pela "diferença", afinal, deveríamos ser corretos.
O que é ser correto, afinal? Julgar os outros sem pensar em seus sentimentos? Ser o agressor que ri junto de seus amigos perto de uma pessoa divergente? Isso é ser certo? Jamais, em qualquer hipótese, deveríamos ser rotulados pelas nossas características. Seja o
preto, o
pobre, a
biscate, a
sapata, a
baleia e o
bichinha que você quiser, pois duvido que só isso machuque alguém. Vivemos em um mundo que
tenta ser tradicional, e por isso não é capaz de brilhar o bastante.
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Brilhe por ser quem você é, afinal, o
glitter é seu, mas não apague a luz do próximo. Você jamais conseguirá um raio a mais tentando ofuscar o lampejo de alguém, pois isso só o torna covarde. O
bullying nunca funcionou, aliás, só enalteceu o poder interno de muitas pessoas.
Se você é insolente ao ponto de julgar alguém por quem ele é, amigo, eu sinto muito, mas você não brilha. Você é obscuro, e o mundo não gosta de alguém assim. Vejamos Callie, por exemplo, ao assumir quem ela é e seus pensamentos, conseguiu, ao menos, tirar um sorriso genuíno de Jess, a qual não encontrava motivo para sorrir há muito tempo.
O bacana de tudo isso é que essa discussão respingou em personagens que, hoje em dia, são exímios naquilo que fazem. Vejam Maggie, por exemplo, uma perita na cardiologia que sofreu na infância. As suas declarações só a tornam mais amável a cada episódio que passa. Aqui, Dra. Pierce cresce por abrir o seu coração e demonstrar que, apesar de ter apanhado muito da vida, ela merece o seu lugar ao sol. Ela é merecedora, e não há
bullie sequer que a destrua.
O mesmo acontece com Arizona, a qual, certamente, sofreu (e sofre) por suas diferenças. Isso resta incontroverso no momento em que ela encontra dificuldades em achar companheiros de quarto, e acaba por achar Andre DeLuca, interno este que padece de aflições por ter exagerado nas suas "verdades" quando chegou ao hospital. Certamente essa união será muito bem aproveitada, tenho certeza disso.
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Também é pertinente a presunção de que a mensagem atingiu Alex, personagem que sempre encontrou dificuldade em se abrir aos demais e que aqui conta um pouco de sua história como o garoto gordinho que apanhava dos amigos por ser diferente. Aliás, Alex é muito especial por ser exatamente aquilo que todo mundo repulsava, mas que acabou sendo atingido pelo sol e semeou uma simpatia incontrolável, merecendo todo o reconhecimento possível. Há rumores de que a temporada trabalhará com a sua essência, e eu realmente torço por isso.
A
premiere conseguiu, também, recolocar Miranda Bailey em evidência. A personagem vinha apagada desde que George morreu, convenhamos. Seus
plots sempre foram resumidos em poucos episódios e sua característica de prepotência foi rebaixada. Com a instituição de um novo chefe de cirurgia, o roteiro viu a oportunidade de criar um espaço digno à personagem, e aqui, mediante todo um discurso de
self-aceitação, Bailey assevera o seu comprometimento com o hospital e com a série. Ela merece tudo, bem como o seu lugar ao sol.
Sendo assim,
"Sledgehammer" acertou em cheio aqueles que desacreditavam do brilho de
Grey's Anatomy. Tenho certeza que os
bullies apareceram com sete pedras em cada mão, prontos para o ataque, mas que não conseguiram destruir a nossa série. O sol brilhou mais uma vez, e eu já estou sentindo a sua queimação.