A importância de uma
final season para qualquer série que esteja com seus dias contados é extrema. Ora, é nesse percurso derradeiro que o
show tem a oportunidade de se recriar nos momentos que lhe restam por meio de um resgate emocional. É de praxe as séries optarem por esse padrão, e aqui fica claro que
Glee entrou no rol dessas séries.
Não podemos negar que
Glee sempre pisou nas feridas sociais. Talvez essa característica tenha tornado a série tão presunçosa.
Se podemos falar dos problemas de uma sociedade, devemos fazer isso em massa. Talvez esse tenha sido o pensamento de Ryan Murphy, e foi essa sede pelo infungível que tornou o roteiro tão preguiçoso de uns anos para cá. Entretanto, no corredor da morte, nossa dramédia favorita encontrou a sua luz. Resolver as pontas soltas era o jeito de se reinventar, pois nada melhor do que voltar para casa para arrumar seus próprios pensamentos.
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Essa tentativa de abraçar o mundo funcionou nos momentos viáveis, e aqui, seis anos depois da sua estreia,
Glee se reergue e consegue, mais uma vez, agredir o psicológico social e ir de encontro ao Leviatã. Ok, pode parecer um exagero, mas conseguir expressar o sentimentalismo dos oprimidos em horário nobre, em uma rede de televisão aberta e em frente ao público americano tão rigoroso, não é fácil não.
"Jagged Little Tapestry"trouxe a onda dos
mash-ups que Will sempre usou. Ver Rachel e Kurt em ação nos mostra que Mr. Schue conseguiu concluir seus trabalhos com maestria, apesar dos pesares. É muito interessante ver a dupla dinâmica colocando em prática suas próprias experiências, mas o melhor é perceber que isso está fluindo. O que me deixa apreensivo é perceber que essa tática de ressuscitar o
Glee Club chegou tarde demais. Tudo bem, estamos em uma temporada final, mas temos apenas treze episódios para concluir uma meta que sempre leva quase uma temporada inteira para ser alcançada. Ainda, temos apenas quatro membros no novo clube. As regras das
sectionals serão quebradas ou teremos novos membros em breve? Será que o pessoal da quarta/quinta temporada voltará para suprir a ausência de cantores suficientes? Estou bem curioso para ver onde isso dará, mas tenho certeza que a mente mirabolante de nosso
showrunner trará uma solução
um pouco plausível.
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A tarefa da semana era unir o que jamais deveria ser unido. A combinação de Carole King com Alanis Morissette nunca daria certo, na teoria, mas nosso episódio conseguiu transformar isso em algo prazeroso de se assistir. Unir o sal e o açúcar, por exemplo, não é muito agradável, mas essa combinação, desde que bem feita, pode ser possível. Essa foi a lição do dia que conseguiu repercutir em um assunto criado lá nos primórdios de
Brittana. O casal formado por Brittany e Santana sempre foi interessante, mas nunca conseguiu aflorar como devia. Finalmente, Santana conseguiu destruir sua própria carcaça de medos e ilusões e propôs sua amada em casamento.
Eis que voltamos ao início. Os casamentos de
Glee tendem ir de mal ao pior em instantes, e Kurt sabe muito bem disso, afinal, teve que dar o seu pitaco na relação das duas. A amargura de Kurt é algo que sempre me incomodou, e perceber que ele e Blaine estão fora do compasso me irrita de certa forma, afinal, temos só mais dez episódios e um drama desnecessário a ser resolvido.
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Além disso, o desgaste que
Klaine nos proporciona em tela é algo surreal. Kurt e Blaine sabem que não funcionam e querem, pelo menos, tentar chover no molhado. Será que isso funciona? Talvez sim, desde que um das partes mude. Entendo que Kurt possa ser irritante, e que o discurso de Santana foi bem coerente, mas quantas vezes fomos bombardeados com as irritações de Blaine? Talvez
Klaine nasceu para ser extinto, bem como
Calzona em
Grey's Anatomy. Espero que Ryan tenha a mesma audácia de Shonda e tome coragem para desfazer aquilo que jamais deveria ter sido refeito.
Usar do casamento entre iguais foi uma das armas do episódio, mas que não foi capaz de superar os próximos que comentarei. Primeiramente, a trama de Becky merece destaque por ser inédita, pelo menos na minha
watchlist. Becky sempre foi uma personagem interessante pois quebrou o paradigma da fragilidade dos síndromes de down. Ainda, a sua relação com Sue sempre foi capaz de apimentar ainda mais a
storyline da personagem.
Pois então, uma garotinha que passou por tudo merecia uma chance no amor, e eis que surge um pretendente para a moça. A situação caiu como uma luva em um episódio que veio para quebrar os paradigmas e as barreiras. Por que uma pessoa com síndrome de down deveria ser privada daquilo que os
normais desfrutam? A presença do seu namorado considerado
regular trouxe essa questão ao jogo. Foi curioso ver como o
plot se desenvolveu, mas principalmente por nos fazer enxergar com outros olhos. Ora, Becky sempre pareceu mais sensata do que muitos na série, nada mais natural do que ela arranjar alguém que lhe ature. Becky precisava disso para ser feliz, e o momento fofura do episódio ficou por conta dela, apesar dela ter merecido aquela
vrá da Santana que foi doloroso porém necessário.
Mas o destaque do episódio vai para a história com menos valor ao todo: a vida de Shannon Beiste. Digo que o
plot tem menos valor por seguir pelo caminho menos óbvio. Beiste não pertence ao núcleo principal da série mas conseguiu nos emocionar mais uma vez. Uma personagem tão característica como nossa treinadora merecia o
spotlight mais uma vez, e eis que temos o desenvolvimento sobre indivíduos transgêneros que não havia sido abordado de forma tão coerente em
Glee.
Beiste já nos emocionou no
plot Maria da Penha lá na terceira temporada, e aqui tivemos a dinâmica a respeito de suas emoções e características. Beiste nunca foi uma personagem comum, principalmente por exercer um papel tão masculino, mas sua feminilidade já foi exposta, o que deixou tudo mais confuso. Eis que o roteiro ousa e vai de encontro com outro assunto polêmico que muitas séries não têm coragem de abordar. A guerra interna de Beiste deixou o time preocupado, e a execução dessa descoberta foi muito bem desenvolvida aqui, principalmente por colocar Sam em evidência e a humanidade de Sue em jogo. Com certeza uma história que sempre será lembrada pelos telespectadores.
Glee nos apresentou um episódio bem coeso e fechadinho, que usou e abusou de assuntos polêmicos que com certeza dão o que falar. Entretanto, ainda não mostrou o potencial de sua última temporada, nos deixando com aquela pergunta na cabeça: como será o final disso tudo?