Dizem que a nossa vida é uma peça, e ela só se completa quando somos capazes de interpretarmos nós mesmos. Durante todo o desenvolvimento, as pessoas precisam tomar partidos e posições que muitas vezes não lhes agrada, mas que são necessários. "Glee", ao virar o seu próprio universo, tentou nos mostrar isso. Se a tática foi feliz ou não, ninguém sabe, a divergência é grande, mas toda essa transformação nos mostrou que a série deixou histórias abertas para a sua reta final e que está na hora de encerrar os trabalhos.
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As perdas no elenco seguiram o mesmo processo do ano anterior, que conseguimos engolir facilmente. A morte de Cory, e consequentemente a de Finn, conseguiram, de um jeito mórbido, elevar certas histórias, como a de Rachel por exemplo, que teve que enfrentar seus próprios fantasmas para seguir em frente. O desenvolvimento da personagem na Broadway foi algo fantástico. Rachel Berry vinha em uma maré de bons episódios, guiados desde
"The Quarterback", passando por
"Frenemies", até chegar em
"The Opening Night". O problema presente aqui é que os sonhos de Rachel engataram a quarta marcha e caminharam de um jeito acelerado que se resolveu em dezessete episódios. A fórmula chegou ao fim, bem como os sonhos de Rachel.
A dinâmica que envolveu toda a história de Funny Girl enfureceu muita gente, e particularmente, não me fez feliz. Contudo, sempre tento encarar as coisas pelo lado bom e pelo lado ruim. Seguindo a ideia majoritária, concordo que Rachel almejou demais, sonhou alto e criou expectativas absurdas que não lhe satisfizeram. Por cento e
poucos episódios seguimos o rastro da personagem que vivia para idolatrar Barbra e Fanny Brice, e quando ela pôde viver isso, não funcionou. Parece algo egoísta esnobar aquilo que lhe satisfaz, mas Rachel o fez. Como disse em algumas reviews anteriores, sonhos só são sonhos até serem realizados, e infelizmente os de Rachel foram.
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Mas por outro lado, toda essa história abriu um novo capítulo na vida de nossa protagonista. A ideia de uma série de televisão ultrapassa os limites sonhados por ela. Desde o
"Pilot"sabemos que Mrs. Berry sonha em ser uma estrela, afinal, ela até assinava o seu nome com uma, e ninguém nunca disse que ambição era pecado. Rachel conseguiu o que queria até aqui, e a partir disso criou novos sonhos. A problemática se dá pelo fato de que tudo foi desenvolvido muito rápido, sem levar em consideração quatro temporadas e meia. Toda a sequência que acompanhou Rachel nessa
season finale mostrou como ela vê a sua própria vida, que para ela é fantástica, e poder contar isso para o mundo é algo mais do que sonhado, uma vez que ela poderá relembrar de tudo e de todas, e mostrar que os seus sonhos foram realizados, mas que há sempre espaço para o novo.
Mas temos um porém. A questão embaraçosa envolve todo o
plot que se seguiu. Rachel não é mais Rachel, e sim a sua intérprete. Se pararmos para analisar toda a história da personagem, ela é um
reboot de Lea Michele, que seguiu basicamente os mesmos passos de sua personagem. Não sei se isso é problema do roteiro ou a inclusão da atriz nos grandes planos da temporada, só vejo isso como um espelho de Lea, o que não deveria acontecer. "Glee"é uma série sobre pessoas e seus problemas, e querer dar uma vida perfeita a Rachel não é errado, mas imitar a sua vida não parece mito original. E originalidade é o grande problema da história e Ryan Murphy.
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A história sofreu até aqui por não ser mais original. Usar a abusar de assuntos repetitivos é o que levou o New Directions ao fim, e deixar somente New York em foco parecia ser a solução. Errou quem pensou assim. Primeiro pelo
plot de Klaine que venho aturando desde a segunda temporada. Quando tudo começou a se tornar digerível, tentaram criar um universo único para Blaine que se tornou apenas o inverso do que era no Glee Club. Agora Blaine é Kurt e Kurt é Blaine.
As oportunidade que Blaine vem ganhando de June são muito boas, é claro, mas nada na vida é tão fácil, e ver uma mulher que surgiu aparentemente do nada querer levar isso para baixo não é algo inovador na série. Já tivemos muito disso nas temporadas passadas. Querer trabalhar com a mentira em cima do casal também não segue os padrões originais e só demonstra o desgaste de tudo isso.
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Podemos dizer o mesmo de Sam e Mercedes, que estão no chove e não molha desde que New York roubou a cena e que não favoreceu em nada. A estreia da
mall tour da cantora e as oportunidade que o roteiro teve de fazer Sam ficar sem camisa foram uma jogada um pouco descarada de que eles não poderiam funcionar, mas agora com um quê mais adulto: o sexo estava em jogo. Até foi bom que os dois terminaram, pois cada um pôde ir para um canto e Sam largar o seu sonho de modelo de ônibus e voltar para casa para fazer Deus sabe o quê. É sério isso?
A
season finale não foi totalmente ruim, tivemos alguns momentos divertidos, mas me pareceu um pouco corrida. Querer apressar certos
plots, como este de
Samcedes, não foi algo muito proveitoso. Além disso, trazer Brittany para figurar cena sem dar um desfecho à história que ela criou com Santana lá em
"New Directions", em nada lhe favoreceu. A ideia de transformar New York em uma polo única da história tinha tudo para funcionar, e
"New York"abriu um leque de possibilidades, mas que não foram bem executadas. Artie está aí para provar isso. A sua história como um deficiente em um cidade não projetada poderia ser muito bem trabalhada, mas morreu no meio do caminho.
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Agora "Glee" tem a árdua missão de encerrar a sua jornada. Temporadas finais são difíceis pois colocam em prova o poder de seu
showrunner. Tudo pode funcionar do mesmo jeito que pode se tornar uma bela porcaria. A boa notícia é que a série só retornará na
mid-season, já deixando a possibilidade de uma redução de episódios, o que seria muito legal. Muitos dizem que a temporada seguirá o padrão de 22 episódios, outros falam de 13, enquanto alguns cogitam até mesmo 9. Seja 8 ou 80, se tudo funcionar bem e tentar concluir cada história de cada personagem que já passou por essa série (e haja personagem), tem tudo para dar certo. O final da temporada abriu uma possibilidade de arcos que poderão ser muito bem executados, agora só nos restar esperar. Pelo menos teremos um
jump que tentará reinventar, de novo, a história de "Glee".